E peço desculpa às pessoas do restaurante
Para todos aqueles que aprenderam as suas noções de senso comum e boa educação através da escola pré-Socrática do Championship Manager 2001/02, as estatísticas dos jogos do Sporting representam desafios filosóficos cada vez mais difíceis de ultrapassar.
O mundo do Championhisp Manager era uma Arcadiazinha ao estilo da América de Eisenhower - onde os homens usavam chapéu e as mulheres sabiam o seu lugar; onde os jogadores com maior percentagem de passes concretizados eram invariavelmente os defesas-centrais (o Carlos Marques, o Carriço do princípio do milénio, chegou-me a acabar jogos com 100% ao serviço do Aston Villa); onde os jogadores com mais golos marcados eram invariavelmente o Tsigalko, o Mihalcea ou outro desses jogadores assim ex-comunistas que custavam quarenta mil contos por consoante; onde o melhor em campo era sempre o Tó Madeira.
O Sporting de Paulo Bento tem implementado uma espécie de versão balcânica do futebol total em que as posições, características e até os nomes dos jogadores são totalmente irrelevantes para os algarismos que acumulam até ao final do jogo. A dinâmica não é anárquica, mas caótica - mais Kosovo do que Holanda. Temos um defesa central com um complexo de Gary McAllister que falha uma média de 8 passes de 40 metros por jogo; temos 3 avançados que se comportam como se estivessem a fazer audições para o papel do Gattuso; temos um lateral-direito maluquinho, com a auto-confiança do Garrincha, o físico do Alexandre Frota, e a inteligência táctica da Malu Mader.
Aliás, o debate sobre os laterais-direitos do Sporting devia acabar antes de ter tempo de ganhar importância. Há pessoas que continuam a perguntar em voz alta se Pedro Silva é pior que Abel - uma linha de inquérito que faz tanto sentido como tentar saber se o Pol Pot era mais mauzinho que o Estaline. Numa sociedade civilizada, a posição humanista e liberal é decidir que são ambos monstros genocidas, e emprestar os dois ao Trofense. Espero que a exibição ligeiramente acima do sofrível de ontem não leve pessoas a pensar que o Pedro Silva é um jogador de futebol; o Miguel Garcia também "secou"o Simão uma vez. No mundo idílico do CM, o Pedro Silva teria 40 anos e seria sócio de uma churrasqueira; no mundo "real" anda ali com o Reyes a fazer reconstituições históricas da corrida de Aquiles e da tartaruga.
Depois há o problema do trinco, que nunca se colocava no CM: ia-se buscar o Radomsky a custo zero e pronto. Para o losango de duendes do Sporting, o trinco ideal seria um não-caucasiano de cabeça rapada e com o rosto do seu primogénito tatuado na pantorrilha. Preferencialmente, teria passado algum tempo numa prisão em Minas Gerais e saberia matar pessoas com um tabuleiro de refeitório. Na ausência de meios para ir buscar uma destas criaturas mitológicas vulgarmente designadas como "Paulo Assunção" ou "Marcos Senna", o Sporting habituou-se a viver com uma longa linhagem de homens invisíveis - Pedro Martins, Delfim, Rui Bento, Custódio - que entusiasmam o tipo de jornalistas desportivos que gostam de usar a expressão "sentido posicional", mas que nunca enganaram o Carlos Daniel ou eu próprio.
A opção seguinte foi um acidente de percurso chamado Miguel Veloso, uma espécie de Pirlo com um cromossoma a menos, que poderia ter uma carreira interessante entalado entre o Gattuso e o Ambrosini, mas que suspeito estar agora condenado a ser dono de uma discoteca em Vilamoura antes dos 30 anos, com o dinheiro arrecadado na sua passagem catastrófica pelo West Ham.
Resta-nos nesta altura o Rochemback (ao contrário do Dr. Besugo, acho que o Moutinho deve continuar a sofrer as suas overdoses de Ritalin em zonas assim "mais lá para a frente" no campo).
O Rochemback, como é dito aqui em baixo, tem um conjunto de qualidades que mais nenhum jogador do Sporting tem ou pode vir a ter. Um dos problema actuais é que o tempo necessário para executar as coisas que essas qualidades lhe permitem executar raramente está disponível. Daí que, com este plantel e com este sistema, a escolha do número 6 do Sporting deve ser uma decisão tomada semana a semana. Quando os jogadores no seu raio de acção são o Luis Aguiar ou um daqueles chatos do Belenenses, o Rochemback deve ficar sequestrado no hotel a ouvir o jogo na TSF. Mas quando o adversário directo é o Pablo Aimar, um jogador que fuma um cigarro e envia 2 sms antes de decidir o que fazer à bola, o Rochemback deve ser o primeiro rascunho no boletim de jogo. Não apenas pela qualidade do passe, que em certas alturas até pode ser contraproducente (por duas ocasiões no jogo com o Belenenses o Rochemback fez passes por alto para a linha lateral que, infelizmente, só o Rochemback seria capaz de receber), mas também pela forma como distribui fruta com o entusiasmo de um voluntário do Banco Mundial Contra a Fome. O Aimar, com aquela carinha de figurante do Miami Vice (é o gajo que bufa assim que o senhor polícia grita com ele) é dos poucos jogadores da liga portuguesa capaz de fazer com que o Rochemback seja o jogador que o Barcelona contratou e não o que o Middlesbrough dispensou (não há um único jogador como o Aimar em Inglaterra; morrem todos na alfândega).
E alguém trate do contrato do Paulo Bento, por favor. A verdade é que se os CTT tivessem perdido a cassete do Hulk enviada para o Dragão, um plantel em que o Abel, o Pedro Silva e o Grimi são potenciais titulares estaria a festejar o título em Março.
O mundo do Championhisp Manager era uma Arcadiazinha ao estilo da América de Eisenhower - onde os homens usavam chapéu e as mulheres sabiam o seu lugar; onde os jogadores com maior percentagem de passes concretizados eram invariavelmente os defesas-centrais (o Carlos Marques, o Carriço do princípio do milénio, chegou-me a acabar jogos com 100% ao serviço do Aston Villa); onde os jogadores com mais golos marcados eram invariavelmente o Tsigalko, o Mihalcea ou outro desses jogadores assim ex-comunistas que custavam quarenta mil contos por consoante; onde o melhor em campo era sempre o Tó Madeira.
O Sporting de Paulo Bento tem implementado uma espécie de versão balcânica do futebol total em que as posições, características e até os nomes dos jogadores são totalmente irrelevantes para os algarismos que acumulam até ao final do jogo. A dinâmica não é anárquica, mas caótica - mais Kosovo do que Holanda. Temos um defesa central com um complexo de Gary McAllister que falha uma média de 8 passes de 40 metros por jogo; temos 3 avançados que se comportam como se estivessem a fazer audições para o papel do Gattuso; temos um lateral-direito maluquinho, com a auto-confiança do Garrincha, o físico do Alexandre Frota, e a inteligência táctica da Malu Mader.
Aliás, o debate sobre os laterais-direitos do Sporting devia acabar antes de ter tempo de ganhar importância. Há pessoas que continuam a perguntar em voz alta se Pedro Silva é pior que Abel - uma linha de inquérito que faz tanto sentido como tentar saber se o Pol Pot era mais mauzinho que o Estaline. Numa sociedade civilizada, a posição humanista e liberal é decidir que são ambos monstros genocidas, e emprestar os dois ao Trofense. Espero que a exibição ligeiramente acima do sofrível de ontem não leve pessoas a pensar que o Pedro Silva é um jogador de futebol; o Miguel Garcia também "secou"o Simão uma vez. No mundo idílico do CM, o Pedro Silva teria 40 anos e seria sócio de uma churrasqueira; no mundo "real" anda ali com o Reyes a fazer reconstituições históricas da corrida de Aquiles e da tartaruga.
Depois há o problema do trinco, que nunca se colocava no CM: ia-se buscar o Radomsky a custo zero e pronto. Para o losango de duendes do Sporting, o trinco ideal seria um não-caucasiano de cabeça rapada e com o rosto do seu primogénito tatuado na pantorrilha. Preferencialmente, teria passado algum tempo numa prisão em Minas Gerais e saberia matar pessoas com um tabuleiro de refeitório. Na ausência de meios para ir buscar uma destas criaturas mitológicas vulgarmente designadas como "Paulo Assunção" ou "Marcos Senna", o Sporting habituou-se a viver com uma longa linhagem de homens invisíveis - Pedro Martins, Delfim, Rui Bento, Custódio - que entusiasmam o tipo de jornalistas desportivos que gostam de usar a expressão "sentido posicional", mas que nunca enganaram o Carlos Daniel ou eu próprio.
A opção seguinte foi um acidente de percurso chamado Miguel Veloso, uma espécie de Pirlo com um cromossoma a menos, que poderia ter uma carreira interessante entalado entre o Gattuso e o Ambrosini, mas que suspeito estar agora condenado a ser dono de uma discoteca em Vilamoura antes dos 30 anos, com o dinheiro arrecadado na sua passagem catastrófica pelo West Ham.
Resta-nos nesta altura o Rochemback (ao contrário do Dr. Besugo, acho que o Moutinho deve continuar a sofrer as suas overdoses de Ritalin em zonas assim "mais lá para a frente" no campo).
O Rochemback, como é dito aqui em baixo, tem um conjunto de qualidades que mais nenhum jogador do Sporting tem ou pode vir a ter. Um dos problema actuais é que o tempo necessário para executar as coisas que essas qualidades lhe permitem executar raramente está disponível. Daí que, com este plantel e com este sistema, a escolha do número 6 do Sporting deve ser uma decisão tomada semana a semana. Quando os jogadores no seu raio de acção são o Luis Aguiar ou um daqueles chatos do Belenenses, o Rochemback deve ficar sequestrado no hotel a ouvir o jogo na TSF. Mas quando o adversário directo é o Pablo Aimar, um jogador que fuma um cigarro e envia 2 sms antes de decidir o que fazer à bola, o Rochemback deve ser o primeiro rascunho no boletim de jogo. Não apenas pela qualidade do passe, que em certas alturas até pode ser contraproducente (por duas ocasiões no jogo com o Belenenses o Rochemback fez passes por alto para a linha lateral que, infelizmente, só o Rochemback seria capaz de receber), mas também pela forma como distribui fruta com o entusiasmo de um voluntário do Banco Mundial Contra a Fome. O Aimar, com aquela carinha de figurante do Miami Vice (é o gajo que bufa assim que o senhor polícia grita com ele) é dos poucos jogadores da liga portuguesa capaz de fazer com que o Rochemback seja o jogador que o Barcelona contratou e não o que o Middlesbrough dispensou (não há um único jogador como o Aimar em Inglaterra; morrem todos na alfândega).
E alguém trate do contrato do Paulo Bento, por favor. A verdade é que se os CTT tivessem perdido a cassete do Hulk enviada para o Dragão, um plantel em que o Abel, o Pedro Silva e o Grimi são potenciais titulares estaria a festejar o título em Março.
Posted by "Rogério Casanova" on domingo, 22 de fevereiro de 2009 at 21:51
Permalink
"A verdade é que se os CTT tivessem perdido a cassete do Hulk enviada para o Dragão, um plantel em que o Abel, o Pedro Silva e o Grimi são potenciais titulares estaria a festejar o título em Março."
Nem assim - porque eu tratava de fazer chegar ao Rui Barros e ao João-o-meu-coração-só-tem-uma-cor-azul-e-branco-Pinto o link do youtube.
Posted by Nuno | 22 de fevereiro de 2009 às 22:59
Hahaha.
Rui Barros e João Pinto a ver o youtube, na net. Pois.
O cabrão do Grimi faz-me lembrar o Tello, mas mais em conta. Quando foi para convencer a direcção a comprar o passe em definitivo, fez uns joguinhos decentes. Agora está encostado, o FDP. Agora só rende quando for altura de renovar, ou quando for contratado a custo zero para um clube Grego. É o síndrome Pedro Barbosa. Mas sem os croissants...
Posted by Erk | 22 de fevereiro de 2009 às 23:46
Quem se lembra de um golo que o Pedro Silva marcou há uns anos ao serviço da Académica, em que correu uns 100 metros, fintou metade da equipa adversária, marcando para terminar um golo fabuloso, só pode tirar uma de duas conclusões:
1. O Roberto Carlos morreu e reencarnou com pé direito.
2. O tipo é maluco e não pode confiar-se nele para jogar numa equipa que sonhe sequer em apurar-se para a taça UEFA.
Ah, ok, o Sporting tem propensão para dar guarida a estes loucos fascinantes.
Abraço,
http://bolaseletras.blogs.sapo.pt/
António
Posted by António | 23 de fevereiro de 2009 às 01:31
Acompanhei, infelizmente, uma época inteirinha do Pedro Silva.
Esse golo (tipo Maradona contra a Inglaterra), aconteceu, se não me engano, contra o Rio Ave quando já ganhavamos por 3.
É importante referir que foi o único golo que o Pedro Silva marcou (pelo menos em slalom).
Mais importante ainda é referir que o Pedro Silva tentava umas 5 vezes por jogo a réplica do golo do Maradona (em casa ou fora).
Se quiserem ficar a perceber que espécie de jogador é o Pedro Silva, posso-vos dizer que é realmente uma espécie de Roberto Carlos.
Mas sem um terço da velocidade, sem remate, e sem a mínima noção de que um defesa lateral serve, em primeiro lugar, para defender.
É, básicamente, um irresponsável.
Não o trocava por nenhum dos actuais laterais da Briosa - Pedrinho e Pedro Costa.
Abraços
p.s.: Ah! E louco fascinante é que ele não é. É apenas parvo. E muito.
Posted by Anónimo | 23 de fevereiro de 2009 às 11:31
Eh, TutanoNegro
isso parece-me queixas de amante despeitada.
Vai tomar um duche frio, rapaz...
Posted by Erk | 23 de fevereiro de 2009 às 11:39
O Pedro Silva foi praticamente corrido da Académica.
Com a sua displicência, deu cabo da paciência a toda a gente. Adeptos, equipa técnica e direcção.
Não houve o mínimo de contestação à sua saída. (e em Coimbra há sempre!)
Quando o Sporting foi buscá-lo, uma época depois de ter saido da AAC, foi um fartote.
Mas nada que surpreendesse!!!!
Apenas mais um na linha do Tiui...
Em duas épocas, quantos jogos fez no SCP?
Duches frios vai precisar o Valdemar quando o rapaz ganhar confiança para fazer no SCP o que fazia na AAC.
A vossa sorte é que o Paulo Bento não alinha com a incompetência e a irresponsabilidade - por muito que os adeptos (como o Valdemar) assim o desejassem.
Posted by Anónimo | 23 de fevereiro de 2009 às 13:16
Valdemar, eu desde que li um comentário de um adepto da Académica em que ele dizia, a propósito da ida do Ezequias para o Porto, "É de longe o pior defesa-esquerdo que eu já vi jogar em Coimbra" aprendi a respeitar - e dar como acertadas - as opiniões deles.
Posted by Nuno | 23 de fevereiro de 2009 às 14:33
Ora aí está Ricardo.
Mais uma ave rara em que só o Jesualdo viu talento.
Posted by Anónimo | 23 de fevereiro de 2009 às 15:01
O Derlei no Benfas também era mau e velho. O Quaresma, egoísta. O Wender, no Sporting não valia um tuste. Depois foi para o Braga e no 1º jogo marcou, ao Sporting. O João Alves era bom, depois mau.
Há mais exemplos, se vocês os quiserem dar.
O Tiuí já nos ganhou uma taça. Recordam-se? O Cardoso, quantas? E o Suazo?
Isto tudo para dizer que até mesmo as opiniões acerca de jogadores-cepos são como os cús: há vários, e cada qual decide se dá o seu.
Posted by Erk | 23 de fevereiro de 2009 às 15:15
Obviamente, Valdemar. E foi isso que o TutanoPreto e eu fizemos (dar opinião, não o cu, entenda-se).
Posted by Nuno | 23 de fevereiro de 2009 às 15:55
Antes de mais dizer que este blogue é lindo.
segundo: aínda não percebi se amam ou odeiam o rochemback. Eu amo mas o filha da puta podia ser mais rapido e menos gordo, de facto. posto isto, ninguém temporiza o jogo como ele, ninguém vai correndo com a bola, lentamente, horizontalmente e pela linha de meio campo, a fim de abrir linhas de passe para os colega como ele, raros são os que aguentam as cargas como ele o que significa que é um jogador de confiança, no qual os colegas tocam a bola e sabem que ele não perde (porque ou aguenta a carga, ou passe, ou mantém ou manda cu caralho e raramente perde), a qualidade de recepção é invejável, o remate é poderoso, mas gordo como é precisa de imenso espaço e tempo e por isso só tenta de livre...
é um jogador que adoro, bastante acima do Miguel veloso que é uma imitação de pior qualidade do rochemback (sendo talvez apenas melhor no passe e apenas com o pé esquerdo...)
O fabio está melhor mas podia ser mais magro, de facto. daí a urgência dieta.
força nisso
Posted by Zé Miranda | 23 de fevereiro de 2009 às 20:30
Zé Miranda,
acho que todo o adepto da bola gosta do Rochemback, do da primeira passagem pelo Sporting.
Mas os cabrões dos Ingleses engordaram o gajo...
Posted by Erk | 24 de fevereiro de 2009 às 11:46