A Dieta Rochemback

[Lombardia, Verão de 2010]

É da mais elementar estupidez deixar-me entusiasmar por uma contratação noticiada em primeira página pela Bola, mas uma pessoa de férias com acesso ao YouTube está condenada a cometer actos da mais elementar estupidez várias vezes ao dia. Também não nego que uma montagem vídeo de três minutos produzida pelo empresário certo pode fazer o Pedro Silva parecer o Maicon, mas há aqui pormenores que me deixam anfetaminicamente excitado. A jogada de golo que começa ao minuto 1:03, por exemplo, é concretizada ao minuto 1:12, e não me lembro da última vez que um jogador do Sporting demorou nove segundos a marcar um golo sozinho, sem que a jogada envolvesse protuberâncias no relvado, tropeções de adversáros e sucessivos ressaltos na canela.
Mais entusiasmante é o pequeno e aparentemente inócuo momento entre os minutos 2:14 e 2:21, uma jogada em que Matias Fernandez decide fintar duas vezes para o sítio mais complicado. Isto é um recurso técnico sem quaisquer precedentes na nossa história recente, em que o princípio que coordena a construção de jogo é o de tentar não provocar assobios nas bancadas. Qualquer jogador do actual plantel com velocidade suficiente para chegar àquela bola antes dos adversários (o que já de si leva este argumento para o território da física quântica) teria tentado de imediato proporcionar ao Liedson uma oportunidade para correr trinta metros e pressionar o defesa-central. Na ainda mais absurda eventualidade de o jogador ter conseguido replicar o gesto do minuto 2:16 sem uma lesão no fémur, teria inevitavelmente tentado transferir o pânico para uma das duas camisolas iguais ali nos cantos do ecrã. Ninguém no Sporting actual tem a inocência histórico-política suficiente para acreditar que é possível uma pessoa levar a bola para o meio das outras pessoas e esperar que o talento ache uma saída.
Elementos mais do que suficientes para concluir que o rapaz vai acabar emprestado ao Racing de Santander, ou apresentado no Dragão, mas nesta fase específica da minha vida eu opto pela histeria em primeiro lugar e pelo arrependimento em segundo.